O celular ouve as suas conversas?

Não é difícil encontrar alguém que tenha certeza de que o celular ouve conversas sem autorização, mas será que há algum fundamento nessa suspeita? Como é comum a impressão de que redes sociais oferecem anúncios e sugestões sobre as quais você conversou com alguém, além de assistentes virtuais terem acesso contínuo ao microfone do telefone, o Canaltech conversou com especialistas em segurança e privacidade para entender melhor o assunto.

Há indícios de que aplicativos de celular estão sempre com o microfone ligado para captar todos os sons ao seu redor, especialmente vozes de pessoas. Ao Canaltech, o diretor de inovação em privacidade da Norton Iskander Sanchez-Rola aponta um exemplo de 2.019.

“A maioria tem smartphones, o que muitas vezes significa possuir um dispositivo que poderia potencialmente nos ouvir. Há especulações sobre anúncios personalizados seguindo conversas próximas desses dispositivos”, explica Sanchez-Rola. “Por exemplo, o aplicativo oficial da principal liga de futebol da Espanha foi multado por gravar áudio [em 2.019] sem o conhecimento dos usuários, levantando sérias preocupações com a privacidade”, prossegue.

Esse tipo de situação ligou um alerta, pois o celular é um item quase que obrigatório no dia a dia de muita gente. Vale lembrar que, em 2.023, empresas nos Estados Unidos admitiram ouvir conversas do celular para vender mais, mas vale destacar que o aparelho não fica com o microfone ligado por 24 horas enquanto aguarda as informações do usuário, como muitos imaginam.

Mesmo com indícios e condenações de companhias, a ideia de que o celular realmente fica ouvindo as conversas é um mito — pelo menos na opinião do diretor da Equipe Global de Pesquisa e Análise da Kaspersky para a América Latina, Fábio Assolini. O especialista destaca que as empresas utilizam outros meios para coletar dados dos usuários. “Embora seja tecnicamente possível, é um mito que os smartphones nos ouçam ativa e constantemente para enviar essas informações a terceiros e, em particular, a empresas de análise de dados”, frisa.

O que explica essa impressão?

O profissional aponta que as pessoas passaram a acreditar nisso por notarem que sempre há propagandas direcionadas às suas preferências, como se o telefone estivesse lendo as vontades e ouvindo os bate-papos. No entanto, não é bem assim. “Na maioria das vezes, isso pode ser explicado por métodos e ferramentas de coleta de dados mais convencionais, como o rastreamento de nossa atividade online por meio de cookies, nossas preferências de pesquisa, nossos dados de localização fornecidos por GPS ou o comportamento analítico de como interagimos com um aplicativo ou local na rede Internet”, destaca o especialista.

Dessa forma, Assolini lembra que praticamente qualquer movimentação na internet é o suficiente para produzir dados que vão ser transformados em recomendações de produtos e afins. Uma curtida no Instagram ou uma pesquisa no Google, por exemplo, são suficientes para criar um perfil do usuário para receber os anúncios.

“O que acontece é que existe uma função nos smartphones que permite compartilhar essas preferências de consumo com outros dispositivos próximos”, ressalta o Fabio Assolini. “Quando não existe uma conversa específica e vemos uma propaganda diferente, acreditamos que o algoritmo está apresentando temas aleatórios. Mas quando temos uma conversa entre amigos e, logo em seguida, vemos uma propaganda sobre o mesmo assunto, cria-se a percepção que o celular ouviu a conversa”, finaliza.

Cuidado com spywares

Por fim, como normalmente o que pode espionar o dono do celular é um aplicativo mal-intencionado — os famosos spywares — e não o celular em si, ambos os especialistas destacam a importância de ter um bom antívirus constantemente atualizado no seu aparelho.

E aí!? – Falar perto do celular é seguro? (Imagem: Pixabay free download)

Fonte: Ricardo Syozi/terra.com.br (reeditado).

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