O espanhol é considerado a segunda língua nativa mais falada do mundo, com cerca de 530 milhões – o idioma oficial de 21 nações. Apesar de ter praticamente todos os países vizinhos falantes da língua, o Brasil dá pouca atenção ao idioma. Estima-se que apenas 460 mil brasileiros falam o espanhol com fluência ou regularidade, sendo que aproximadamente 12 milhões de têm algum conhecimento do idioma, ainda que de forma limitada.
E, apesar de o espanhol e o português descenderem do latim e possuírem semelhanças – por isso muitos entendem, mas não conseguem falar – o pouco interesse acarreta perdas pessoais (turismo e cultura) e profissionais (econômicas e comerciais) do Brasil para com outros países falantes.
Adoção
Apesar da proximidade geográfica com países hispano falantes, o Brasil historicamente não integrou o espanhol como parte fundamental de seu projeto educacional nacional, algo que pode ter raízes inclusive na colonização – o Brasil tendo sido colonizado por Portugal, enquanto os países vizinhos foram colonizados pela Espanha.
Cenário curioso – “Rodeados por países que falam espanhol, mas com pouco investimento e incentivo para o ensino do idioma em larga escala”, opina Natalia Bueno, professora da Escola Internacional de Alphaville. Uma realidade que pode ser atribuída ao maior incentivo do ensino do inglês, a língua global dos negócios.
Natalia ressalta que, embora o espanhol seja uma ponte poderosa para o diálogo intercultural, ainda não é tratado como prioridade no sistema educacional brasileiro. “Aprender espanhol é também se abrir para culturas, histórias e formas de pensar distintas — e essa é uma riqueza que o Brasil ainda não explora plenamente”, completa.
Desafios e entraves
Segundo Taiana Vanucci, coordenadora e professora de espanhol da Escola Bilíngue Aubrick, um dos principais entraves está na forma como o idioma é percebido. “É preciso superar a ideia de que o espanhol é fácil por ser próximo ao português. Essa visão gera desinteresse e prejudica a profundidade da aprendizagem”, afirma.
Ela aponta ainda que o ensino muitas vezes se limita à memorização de regras gramaticais, sem promover o uso real da língua em situações comunicativas. Para a docente, promover vivências práticas, como simulações de situações reais do cotidiano em espanhol, é uma estratégia eficaz para consolidar o aprendizado, criando experiências significativas com a língua.
Dicas
Elena Garcia Perez, professora de espanhol do Brazilian International School (BIS), dá uma dica para quem quer se aprimorar na língua e tornar o espanhol parte do dia a dia. “Ouvir músicas, assistir a séries, conversar com falantes nativos ou participar de grupos de conversação são formas eficazes e prazerosas de avançar no idioma, complementando o aprendizado e acelerando a aquisição de conhecimento e vocabulário”, orienta.
O praticante ou estudante do idioma pode ainda buscar contextos reais de uso da língua, como viagens, projetos culturais ou exames de proficiência. Além disso, Elena reforça a importância de uma abordagem ativa: a pessoa precisa se enxergar como protagonista do seu processo de aprendizagem, pois aprender uma língua é também se permitir mudar o olhar sobre o mundo. “É uma jornada de empatia e abertura cultural. Quanto mais você se conecta com os significados por trás da língua, mais ela faz sentido e se torna parte de quem você é”, finaliza a professora.
Escolas
De olho no potencial que o espanhol pode agregar no futuro de seus alunos, escolas bilíngues investem no espanhol, além do inglês, para formar cidadãos globais preparados para enfrentar os desafios culturais e do mercado de trabalho.
Na Escola Bilíngue Aubrick, de São Paulo, capital, por exemplo, o espanhol é ensinado de forma progressiva e imersiva, começando no Ensino Fundamental II e se aprofundando até o Ensino Médio. A proposta pedagógica coloca o aluno como protagonista da aprendizagem, com aulas inteiramente em espanhol desde o primeiro dia e baseadas em situações reais de comunicação. O uso de materiais autênticos, projetos interdisciplinares e atividades culturais amplia a vivência com a língua. “Nosso objetivo é que o espanhol seja vivido como uma ferramenta de expressão, descoberta e transformação pessoal. Mais do que aprender regras, os alunos se conectam com a diversidade dos povos hispânicos”, afirma a coordenadora e professora Taiana Vanucci.
No Brazilian International School – BIS, também localizado na capital paulista, o espanhol faz parte do currículo do Y6 ao Y9 (equivalentes ao 6º e 9º anos do Ensino Fundamental) e se desenvolve a partir de uma base bilíngue sólida, já construída em inglês pelos alunos desde que ingressam na escola, no ensino infantil. A escola valoriza o contato com diferentes culturas hispânicas e aposta em metodologias que envolvem o corpo e o cotidiano dos alunos em atividades práticas. Os estudantes vivenciam situações reais — como comprar roupas em uma loja ou conversar em um restaurante —, o que torna a aprendizagem mais significativa. “Criamos experiências que estimulam a produção de linguagem e despertam o interesse. O espanhol deixa de ser um conteúdo para passar a uma vivência”, destaca a professora Elena Garcia Perez.
Já na Escola Internacional de Alphaville, na região da Grande São Paulo, o espanhol é introduzido desde o Juniors 3 (na educação infantil, por volta dos 4 anos de idade) com foco no diálogo intercultural e na construção de uma cidadania global. À medida que avançam no aprendizado, do Teens 6 ao Teens 9 (equivalentes ao 6º e 9º anos do Ensino Fundamental), os alunos aprofundam o idioma – e o Espanhol é adotado como a segunda língua de aquisição dentro do programa IB Middle Years Programme (MYP), ao lado do português e do inglês. A proposta valoriza o respeito às diferentes realidades sociais e culturais dos países hispânicos. “Ensinamos espanhol como uma linguagem viva, conectada a contextos reais e à diversidade do mundo. A fluência vem acompanhada de empatia e compreensão global”, afirma Natalia Bueno, professora da instituição.
Fonte: <vagner.lima@fsb.com.br>