Cleyde Espírito Santo, ex-vereadora, morre aos 90 anos. Por duas legislaturas (1.997 a 2.004), foi uma das nove mulheres a ocupar o cargo em Bebedouro. O velório acontece na Câmara, à Rua Lucas Evangelista, Centro, com sepultamento às 13h30 desta quarta-feira (29/1), em Bebedouro.
Como forma de homenageá-la, a Câmara publica a história da parlamentar, coletada quando de sua última entrevista, em 2.021.
Mãe de Jussara e avó de Marcelo, Juliano e Isabela, a filha de um ferroviário e uma lavadeira era a primogênita de três mulheres. Infância pobre e sofrida, a ponto de dividir a sandália com a irmã, de modo que, quando uma saía, a outra obrigatoriamente tinha de ficar em casa. Tempos difíceis, em que não há uma única lembrança de uma brincadeira, mas sobravam na memória as atividades laborais. A pobreza foi marca presente. Nunca havia saboreado um bolo nem experimentado chocolate. Talvez por isso, ela não sentia falta dessas iguarias. O Natal trazia sempre a decepção do Papai Noel, que todo ano presentava as famílias ao redor, mas se esquecia dela.
Ao completar 13 anos, deixou sua cidade natal – Rincão – e veio para Bebedouro com os pais. Assim que chegou, já arrumou trabalho no antigo Hospital Santa Terezinha, onde ajudava na cozinha e lavava louças. Quando o hospital ficou sem cozinheira, coube a ela a responsabilidade de chefiar todas as refeições. Ao buscar verdura para o hospital, viu um moço passando pelo quarteirão e que veio a ser o seu marido, um caminhoneiro, depois dono de uma gleba e, mais tarde, uma fazenda em Frutal (MG). Cleyde não deixou de trabalhar: vendeu joias e bijuterias e nunca deixou de contribuir com a previdência. Conseguiu aposentar e foi a sua amiga e também ex-vereadora Irene Marangoni que a ajudou com a aposentadoria.
Cleyde ficou conhecida pelo trabalho voluntário incansável. Coordenou a Rede Feminina de Combate ao Câncer, além do grupo de voluntárias do Hospital Júlia Pinto Caldeira. Graças ao seu trabalho, foi possível a reforma da lavanderia no hospital. Ela conseguiu dos empresários José Francisco dos Santos e Eduardo Ralston o numerário necessário para reforma e compra de equipamentos. Hoje a lavanderia do hospital é digna de orgulho.
Embora aposentada, não pensava em parar. Prestes a completar 87 anos (faleceu aos 90 anos), esbanjava vitalidade. A oração dela é de agradecimento e a sua prece é de que tenha ainda tempo, pois havia tanto a ser feito. Toda terça e quinta-feira ela ia ao Hospital Municipal, onde liderava um grupo de voluntárias que preparava as roupas da hotelaria: pijamas, camisolas, lençóis. A única certeza é de que depois que entrava no hospital, não havia hora para voltar. Ela contou que, com a pandemia, não foi mais possível realizar bazar e com isso os recursos cada vez mais escassos, além de algumas pessoas terem parado de contribuir, pois pensaram que com o novo hospital não seria mais necessária a ajuda.
O seu legado de voluntariado rendeu convite para tentar uma cadeira no Legislativo. Apreensiva, correu e pediu opinião para o padre que, além de incentivá-la, disse que seria um cabo eleitoral dela. E assim foi eleita para dois mandatos (1997 a 2004). Mesmo fora, ela acompanhava as discussões da Câmara e dizia que ainda recebia o reconhecimento das pessoas cobrando a sua volta à Casa de Leis.
Fonte: Câmara de Bebedouro/Nilton Santos.