A alta miopia aumenta no mundo todo. Só no Brasil, entre 2.020 e 2.030, a estimativa da OMS (Organização Mundial da Saúde) é de que passe de 6,68 milhões de casos para 9,514 milhões, um aumento de aproximadamente 42%.
Pior: pode antecipar em até uma década a catarata altamente mióptica, principal causa de perda da visão em idade produtiva, de acordo com estudo inédito publicado neste mês na Nature. O oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, diretor executivo do Instituto Penido Burnier e membro fundador da Abracmo (Academia Brasileira de Controle da Miopia e Ortoceratologia), afirma que um levantamento realizado nos últimos 12 meses nos prontuários de 420 pacientes do hospital mostra que a catarata antes dos 60 anos é duas vezes maior entre altos míopes.
O especialista destaca que motivos para a catarata precoce em altos míopes não faltam. Isso porque, comenta, a condição causa alterações metabólicas que degradam mais rápido as proteínas do cristalino. O metabolismo e a nutrição da lente também ficam comprometidos pelo alongamento do olho, pontua.
Cuidado redobrado
Queiroz Neto salienta que os olhos de altos míopes são mais frágeis e devem ter acompanhamento periódico, conforme a prescrição do oftalmologista. Isso porque, o crescimento do comprimento axial do olho afina a retina, aumenta o risco de descolamento ou de rasgo, além de predispor ao glaucoma e à degeneração macular.
O oftalmologista chama a atenção para três características diferenciadas da catarata em altos míopes:
• É mais densa e seu núcleo opacifica rapidamente.
• Surge mais cedo.
• Pode vir acompanhada de descolamento da retina, sempre uma emergência oftalmológica.
Altos míopes que repentinamente ficam com a visão embaçada, enxergam flashes de luz, muitas moscas volantes, uma mancha escura ou têm perda súbita da visão devem procurar um pronto-socorro oftalmológico imediatamente. São sintomas que sinalizam uma emergência.
Estudo
O estudo publicado na Nature revela em altos míopes a degradação das células do cristalino está associado à ferroptose ou à morte celular programada. “Em pessoas que têm graus moderados ou leves de erros de refração – miopia, hipermetropia ou astigmatismo – a catarata ocorre por apoptose ou morte não programada de suas células causada por enzimas”, afirma Queiroz Neto.
“A ferroptose no cristalino de altos míopes é causada por acúmulo de radicais livres, falta de oxigenação das artérias e alto nível de ferro livre”, pontua.
Sintomas
Os sintomas da catarata, independentemente da causa, enumerados pelo oftalmologista são:
• Troca frequente de óculos.
• Perda da visão de contraste e de profundidade.
• Fotofobia.
• Enxergar halos ao redor das luzes.
• Cegueira momentânea ao dirigir contra faróis.
• Dificuldade para dirigir à noite.
Como prevenir
Queiroz Neto afirma que, além dos cuidados básicos como o uso de óculos com lentes que filtrem 100% da radiação UV (ultravioleta), durante a exposição ao sol, a prevenção entre altos míopes passa por cuidados que visam reduzir os diversos fatores de risco que podem induzir a ferroptose.
O oftalmologista diz que nenhuma das terapias preventivas deve ser usada sem supervisão médica. Isso porque é necessário passar por exames para ter o diagnóstico de quais fatores estão provocando a morte das células do cristalino. Cinco grupos diferentes de terapias preventivas podem controlar a ferroptose no cristalino de altos míopes.
Antioxidantes
• Glutationa (GSH) que tem ação neutralizante do stress oxidativo e pode ser reforçado com N-acetilcisteína (NAC);
• Vitamina E e Coenzima Q10 para proteger contra a peroxidação lipídica, um fator significativo no controle da ferroptose;
• Ácido lipóico recicla a glutationa e reduz a toxicidade do ferro.
Controle da hipóxia no globo ocular
• A falta de oxigenação no globo ocular pode ser controlada com atividades físicas moderadas para melhorar a circulação sanguínea nos olhos; evitar longos períodos nas telas também melhora a oxigenação nos olhos.
• Ajuste dos níveis de ferro: Em saúde nem a falta, nem o excesso são saudáveis, diz Queiroz Neto. “A lactoferrina, encontrada no leite materno e suplementos, pode ajudar a regular o ferro sem causar deficiência; outro alimento que tem efeito antioxidante e quelante leve de ferro também ajuda no equilíbrio”, pondera.
• Modular a ferroportina regula a saída de ferro das células; já a ferritina o armazena de forma segura. Alterações nesses mecanismos predispõem à perda gradativa da transparência do cristalino.
Regulação dos níveis de ferro por quelantes
• Queiroz Neto chama a atenção das lactantes, Isso porque o leite materno contém lactoferrina que ajuda a regular os níveis de ferro sem risco de causar deficiência.
• “Até ervas como a curcumina tem efeito antioxidante e quelante leve de ferro.
Modulação por ferroportina e ferritina
• A ferroportina regula a saída de ferro das células e a ferritina o armazena de forma segura. O oftalmologista explica que por isso o desequilíbrio em um desses elementos pode provocar a morte de células do cristalino. O ideal, portanto, é manter uma alimentação equilibrada, observa.
Proteção do cristalino e da retina. Queiroz Neto ressalta que a saúde dos olhos também passa pela ativação da glutationa peroxidase
(GPX4) enzima que bloqueia a ferroptose neutralizando lipídios oxidados.
• Este processo, explica, pode ser estimulada por: selênio encontrado em castanha-do-par);
• Vitamina E presente em oleaginosas e azeite de oliva;
• Luteína e zeaxantina que protegem o cristalino e a retina contra a peroxidação lipídica. Encontradas em vegetais de folhas verdes, como espinafre e couve.
Tratamento
Queiroz Neto ressalta que o tratamento da catarata em altos míopes segue o mesmo padrão das cirurgias realizadas em pacientes que nunca usaram óculos. “Hoje a cirurgia de catarata é a que mais agregou novas tecnologias e a maioria dos pacientes fica surpreso com a qualidade de visão que ganham já no dia seguinte da operação. “O alto míope tem o globo ocular mais frágil pelo crescimento excessivo do olho e a catarata mais densa. Na medicina, independentemente da especialidade, quanto mais precoce é o atendimento médico, menores são os riscos, finaliza.
Fonte: <eutropia@ldccomunicacao.com.br>