Sem ações concretas, a conscientização pode ser apenas uma medida superficial que não produz resultados significativos.
Por: Patrícia Punder (*)
Levantamento de 2.023 do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), com mais de 13 mil pessoas, aponta que 56,9% dos trabalhadores não se sentem protegidos no ambiente de trabalho. E, de acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego, entre os assediados no espaço profissional, 80% são mulheres.
E não para por aí, a consultoria Deloitte, ao entrevistar mais de cinco mil mulheres, constata que 49% estão preocupadas com a própria segurança, o que mostra que a conscientização sobre este tema é fundamental para promover ambientes de trabalho seguros, saudáveis e respeitosos.
A conscientização sobre o assédio no ambiente de trabalho ajuda a identificar e a reconhecer comportamentos inadequados. Muitas vezes, as vítimas de assédio podem sentir-se desconfortáveis em denunciar o comportamento abusivo, por medo de retaliação ou de não serem levadas a sério.
Ainda, segundo o relatório da Deloitte, uma a cada quatro mulheres já sofreu assédio durante atendimento a clientes, 24% das entrevistadas, 13% relataram assédio de colegas e mais 13% expõem situações em viagens a trabalho, portanto, 40% das mulheres relataram assédio sexual, e 60% desses grupos atestaram não ter reportado o ocorrido. Além do ato direto, microagressões, consideradas como mansplaining e gaslighting, foram expostas por 35% das entrevistadas e 77% decidiram não denunciar os casos.
Portanto, ao promover a conscientização, as organizações e os colaboradores podem aprender a reconhecer os sinais de assédio e agir para interrompê-los. Ainda assim, ela não é suficiente por si só. É fundamental que as empresas implementem políticas e procedimentos claros para lidar com casos de assédio quando eles ocorrerem. Isso inclui a criação de canais de denúncia confidenciais, a designação de pessoal treinado para lidar com essas questões e a garantia de que as vítimas de assédio sejam apoiadas e protegidas quando decidirem denunciar. Sem ações concretas, a conscientização pode ser apenas uma medida superficial que não produz resultados significativos.
O começo é no momento da contratação. Os colaboradores devem ser informados sobre as políticas da empresa relacionadas ao assédio, os comportamentos inaceitáveis e os recursos para denunciar. Isso ajuda a estabelecer expectativas claras desde o início e demonstra o compromisso em criar um ambiente de trabalho seguro e respeitoso para todos.
Outro aspecto crucial é a educação contínua, com treinamentos regulares sobre o tema e atualização dos funcionários sobre novas políticas, leis e melhores práticas para prevenir e combater o assédio. Investimento nesse sentido não só ajuda a manter o assédio fora do local de trabalho, mas fortalece a cultura de respeito e responsabilidade dentro da empresa.
É importante também destacar que os líderes da empresa devem ser exemplos de comportamento ético e respeitoso, tomar medidas firmes. Quando os funcionários veem que a liderança leva o assédio a sério e age de forma decisiva, eles se sentem mais encorajados a relatar incidentes e acreditam que serão apoiados.
Isso contribui para criar uma cultura de respeito e inclusão. Quando os colaboradores entendem o que constitui o assédio e como ele pode afetar as vítimas, estão mais propensos a agir de forma ética e respeitosa, com a criação de um ambiente em que todos se sentem valorizados e seguros.
Além disso, a conscientização sobre o assédio no ambiente de trabalho ajuda a reduzir os custos para as empresas. O assédio pode resultar em altos índices de rotatividade de colaboradores, absenteísmo, queda de produtividade e litígios legais. Ao investir na conscientização e na prevenção do assédio, as organizações podem economizar recursos e proteger sua reputação.
Em suma, a conscientização sobre o assédio no trabalho é essencial para criar ambientes mais seguros, saudáveis e produtivos.
Ao reconhecer e combater o assédio, as organizações podem promover uma cultura de respeito, de inclusão e de igualdade, com benefícios não apenas aos indivíduos, mas o sucesso a longo prazo das empresas.
Além de possibilitar um impacto positivo, ao promover uma cultura ética e inclusiva ao mundo corporativo, as organizações influenciam outras a adotarem práticas semelhantes. Isso cria um efeito multiplicador, em que os valores de respeito e igualdade são disseminados além dos limites da empresa, em nome de uma sociedade mais justa e inclusiva como um todo.
Patrícia Punder – Advogada e compliance officer com experiência internacional. Professora de Compliance no pós-MBA da USFSCar e LEC – Legal Ethics and Compliance (SP). Uma das autoras do “Manual de Compliance”. Tem expertise na implementação de programas de governança e compliance, LGPD, ESG, treinamentos, análise estratégica de avaliação e gestão de riscos, gestão na condução de crises de reputação corporativa e investigações envolvendo o DOJ (Department of Justice), SEC (Securities and Exchange Comission), AGU, CADE e TCU (Brasil). Acese www.punder.adv.br